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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

De quem é a rua?

Texto retirado da Revista Veja On-line.
Passa carro, passa carro, passa carro, passa carro, passa carro, passa carro, passa carro, passa carro. Abre pro pedestre, corre, 2, 1, 0. Passa carro, passa carro…
Saiu hoje na Folha que o pedestre tem em média 15 segundos para atravessar uma avenida. Está muito claro que as ruas são dos carros. Pedestres podem usá-las comedidamente, mas apenas se prometerem não atrapalhar.
15 segundos para atravessar significa que, ainda que você esteja muito atento e coloque o pé na rua no mesmo segundo em que o sinal abrir, terá que andar a 1,2 m/s para chegar do outro lado antes que o sinal abra – 50% mais rápido que a dita “velocidade de caminhada” (que é 0,8 m/s). Ou seja, há que correr. O pessoal da Companhia de Engenharia de Tráfego diz que é “mais que suficiente”. Verdade. Dá tempo. Desde que o sujeito esteja atento. Desde que ele se mova rápido. Desde que o motorista respeite o sinal. O que nem sempre acontece.
Em 2009, o trânsito de São Paulo matou 1.382 pessoas. Só 222 eram motoristas. 671 eram pedestres. A maioria deles morreu em cima da faixa de pedestres. 30% das vítimas eram idosos, cuja velocidade é menor. Morre mais gente no trânsito do que por homicídio na cidade. Homicídios tendem a se concentrar na população de jovens adultos homens. Já as mortes no trânsito costumam privilegiar os mais fracos: idosos e crianças entre eles.
A gente está cansado de ouvir essas estatísticas. Cansado de ouvir comparações estapafúrdias. Que o trânsito de São Paulo mata mais em 4 meses do que toda a Guerra do Golfo matou nas forças ocidentais. Que mata mais do que o conflito da Palestina. Mata mais do que malária e dengue somados matam no Brasil inteiro.
Levando-se tudo isso em conta, não é curioso que a gente continue achando que o problema do trânsito é apenas sua lentidão? Os jornais diários e as revistas (incluindo a Vejinha) sempre fazem matérias sobre os buracos no asfalto, mas raramente comentam os buracos nas calçadas. Os projetos da prefeitura visam a aumentar o fluxo de carros. Só.
A prefeitura de São Paulo acabou de anunciar que, a partir de 2012, vai acabar com as vagas de estacionamento no meio fio. Motoristas vão ter que parar em estacionamentos fechados. Para quê? Para aumentar o fluxo de carros.
Ok, é óbvio que os carros precisam andar. Mas será que o foco não deveria ser diminuir a quantidade de carros? E se o prefeitura pegasse um quinto do espaço liberado no meio fio e criasse ciclovias? Isso faria as ruas infinitamente mais seguras para ciclistas. Certamente haveria uma explosão das bicicletas na cidade e o número de carros diminuiria (hoje, com o caos atual, já há mais gente se deslocando de bicicleta do que de táxi).
Tenho ouvido sugestões ainda mais criativas. Por exemplo: e se a prefeitura desse descontos no preço do aluguel de quem morar perto do trabalho? Assistencialismo!, já ouço berrarem. Na verdade não: é um jeito de economizar dinheiro público. Investir em diminuir os deslocamentos na cidade sai mais barato do que construir metrô.
E, ainda que não saísse… Por que é que o trânsito, que mata mais brasileiros do que a aids, a diarreia ou o câncer de pulmão, não vira prioridade para a saúde pública? Como é que o carro, que mata mais que o revólver, não tem seu uso controlado?

Crise de cidadania

As tragédias envolvendo jovens motoristas estão relacionadas ainda aos maus exemplos dos adultos. Falar ao celular enquanto se está dirigindo, fazer ultrapassagens no sinal vermelho, desrespeitar o pedestre e estacionar em local proibido são algumas infrações constantes. "Saber se comportar no trânsito é saber se comportar como cidadão, com direitos e deveres. Isso precisa ser trabalhado, estamos vivendo uma crise de valores", diz Marilita Braga, da Coppe. A conscientização pode começar em casa e deveria ser tratada também no colégio. "As escolas públicas não entram em questões importantes no cotidiano de crianças e adolescentes. As particulares, por sua vez, estão preocupadas com a performance no vestibular", critica a advogada Elizabeth Sussekind, ex-secretária nacional de Justiça, da empresa de energia elétrica Ampla. A solução para o caos no trânsito e a preservação dos jovens não podem ser apenas uma preocupação dos pais, lembra Elizabeth. A sociedade precisa assumir o problema. O engenheiro Fernando Diniz, que perdeu o filho no violento trânsito carioca, defende a idéia de que as punições passem a ser educativas. "Os motoristas que causam vítimas deveriam passar um período acompanhando as equipes de socorro do Corpo de Bombeiros. Tenho certeza de que se sensibilizariam mais vendo o mal que provocaram", ressalta. Desde a morte do filho, há três anos, Diniz acompanha pelos jornais notícias de acidentes semelhantes ao de Fabrício e faz questão de prestar solidariedade. É um passo importante, mas o caminho para diminuir a violência no trânsito é longo.

Um comentário:

  1. Oi Mariano, tudo bem? Parabéns pelo Blog!!! Agora é só ir alimentados com as novas novidades que o curso elaboração de projetos irá lhe proporcionar!!! Abraços, Rangel.

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